Responsável da RFB pelo trânsito aduaneiro do Aeroporto de Guarulhos/SP preso na operação Trem Fantasma

Fonte: WWW.FOLHA.COM – JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO

10/11/2010 – 07h56

Chefe da Receita em Cumbica é preso em operação contra fraudes de R$ 50 mi

MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Polícia Federal prendeu um dos chefes da Receita Federal no principal aeroporto do país, em Guarulhos, numa operação contra uma suposta quadrilha acusada de fraudar importações.

O auditor Francisco Plauto Moreira, chefia de trânsito aduaneiro em Cumbica, foi um dos 23 presos ontem. Outras nove prisões foram feitas nos últimos meses, mas só divulgadas ontem.

Entre os presos, há cinco auditores da Receita, três auditores do Tesouro Nacional, dois policiais federais, empresários e funcionários de companhias aéreas e de empresa de segurança.

Um deles tinha loja na Galeria Pagé, um dos mais conhecidos pontos de venda de produtos contrabandeados de São Paulo.

As prisões aconteceram em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. A PF apreendeu cerca de US$ 1 milhão com os suspeitos.

O delegado Vladimir Pacini Schinkarew, que chefiou a operação feita em conjunto com a Receita Federal, estima que as fraudes tenham causado um prejuízo de R$ 50 milhões à Receita. Em um ano, o grupo desviou 80 toneladas de equipamentos, segundo a PF.

A operação foi batizada de Trem Fantasma, em alusão a um truque que o suposto grupo usava para desviar produtos importados dos Estados Unidos e da China, como celulares, lap tops e equipamentos hospitalares. O truque consistia no uso de dois caminhões para retirar as mercadorias — um autorizado, e outro, fantasma.

O sistema da Receita Federal controla o volume e o peso das cargas nos aviões. Os fraudadores, a partir desse sistema, montavam um caminhão fantasma, com mesma quantidade de carga que chegava dos voos internacionais, mas com produtos de baixo valor, como gabinete de microcomputadores.

No setor de trânsito aduaneiro, onde a carga ficava armazenada até ser levada ao seu destino, o caminhão fantasma entrava junto com um caminhão vazio, que era preenchido pelas mercadorias contrabandeadas.

O primeiro seguia para alguma estação aduaneira, era registrado normalmente e pagava um imposto de valor irrisório porque o produto tinha valor baixo. O segundo caminhão, com a carga valiosa, saía do aeroporto sem pagar imposto e se dirigia para cinco lojas receptadoras, todas em São Paulo.

O grupo também falsificava documentos para que a carga constasse como “apenas em trânsito” no Brasil, o que a libera de fiscalização e pagamento de imposto, só cobrado no destino final. Nesses casos, a carga era desviada na pista do aeroporto.

OUTRO LADO

O advogado Paulo Morais, que defende o auditor Francisco Plauto Moreira, diz que não tem fundamento a acusação da Polícia Federal de que seu cliente participava de fraudes em importações.

Segundo ele, Moreira é chefe de trânsito aduaneiro, área em que não são feitas análises de preço nem de produto pois os funcionários que atuam ali não têm acesso à declaração de importação.

A função desse setor, diz, é transferir produtos para o depósito alfandegário, onde é feito o controle de preço.

“O meu cliente diz que fazia de 1.600 a 2.000 operações por dia. Com esse volume, nem dá para ler o que está escrito nos documentos. Se não via o que passava, como poderia participar de fraudes?” A Folha não conseguiu localizar os advogados dos outros presos.

Operação da Polícia Federal desmonta grupo que praticava importações irregulares

Operação da PF detém 23 pessoas e apreende US$ 1 milhão

Balanço parcial da Operação Trem Fantasma foi divulgado às 12h30 de hoje.
Grupo é suspeito de importações ilegais em Cumbica e atuava em 3 estados.

Juliana Cardilli Do G1. (FONTE: http://www.g1.com.br/)

A Polícia Federal prendeu 23 pessoas até as 12h30 desta terça-feira (9) durante a Operação Trem Fantasma que visa desarticular uma quadrilha suspeita de importações irregulares. Durante o cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão, a PF já tinha apreendido, até o início desta tarde, US$ 1 milhão em três lugares.

A operação da PF conta com a participação de agentes da Receita Federal. Desde a manhã desta terça estão sendo cumpridos 29 mandados de prisão preventiva e 44 de busca e apreensão nos estados  de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Os suspeitos desviariam mercadorias que chegam ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

Até o início da tarde, as prisões tinham sido feitas em São Paulo e em Pernambuco. Seis mandados de prisão ainda não tinham sido cumpridos. Ao longo das investigações, que começaram em fevereiro, 11 pessoas haviam sido presas. Duas delas conseguiram liberdade e voltaram a ser presas nesta terça.

Entre os presos, além dos servidores da Receita Federal, estão um ex-gerente da empresa de segurança do aeroporto de Cumbica – um atual supervisor da mesma empresa ainda era procurado no início desta tarde. O homem apontado como mentor do esquema, responsável por fazer a intermediação entre os fornecedores e os lojistas, também foi preso nesta terça. Entre as 11 prisões realizadas durante as investigações, estavam um policial federal e um delegado da Polícia Federal. Ambos foram presos no Rio de Janeiro.

A Operação Trem Fantasma conta com a participação de 180 policiais federais e 80 servidores da Receita Federal. Segundo informações da assessoria da Receita, a quadrilha era composta por empresários, despachantes aduaneiros, empregados de companhias aéreas e servidores públicos. Por meio de importações irregulares, a polícia diz que eles introduziam no país mercadorias vindas dos Estados Unidos e da China.

As investigações apontaram que a quadrilha era responsável pela entrada ilegal de cerca de 80 toneladas de mercadorias todos os anos no país, o que representa um prejuízo de mais de R$ 50 milhões aos cofres públicos. Também nesta terça, autoridades americanas realizam em Miami uma inspeção no armazém da empresa que enviava os produtos para o Brasil.

Os suspeitos irão responder por contrabando e descaminho, crimes contra a ordem tributária, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Fraude
A quadrilha desviava os produtos de duas maneiras. A principal delas utilizava um caminhão com uma carga fantasma que era retirada do aeroporto no lugar dos notebooks e materiais fotográficos, produtos de alto valor agregado. Essa carga saía do aeroporto sem controle e seguia para os receptadores.

“A carga que vem do exterior era atracada no armazém e aberta em regime de trânsito aduaneiro. Quando ela vai para outra cidade, o regime de trânsito é terminado no posto aduaneiro do destino. O transporte é feito por caminhões lacrados na alfândega. Eles enviavam dois caminhões para o aeroporto, um que já tinha uma carga com peso e volume semelhante à que vinha do exterior, mas com produtos de baixo valor, como gabinetes de computador”, explicou Guilherme Bibiani Filho, chefe de escritório da corregedoria da Receita Federal em São Paulo.

Com a conivência dos funcionários do local – entre eles servidores da Receita e seguranças – o caminhão com a carga fantasma seguia para o posto aduaneiro, enquanto o veículo com a carga importada saía sem controle. “A carga fantasma ia para o posto, era registrada, pegava imposto e era desembaraçada, voltava para o caminhão e fazia o circuito de novo”, explicou o corregedor da Receita em São Paulo.

No segundo modo de operação, cargas passavam pelo Brasil com destino a outros países, e por isso não pagariam impostos, eram desviadas pela pista do aeroporto para território nacional. Em um ano, a estimativa é de que 80 toneladas de produtos tenham sido desviadas, causando um prejuízo aos cofres públicos de R$ 50 milhões, relativos aos impostos não pagos.

De acordo com a Polícia Federal, os notebooks e materiais fotográficos vinham de Miami, nos Estados Unidos, e cargas de celulares vindas da China também eram desviadas. As prisões ocorridas durante as investigações decorreram de apreensões de celulares. Cinco lojas suspeitas de receberem as mercadorias foram identificadas e são alvos de buscas nesta terça.

No total, a polícia identificou 50 pessoas envolvidas no esquema – entre funcionários da Receita, do aeroporto, das companhias aéreas e motoristas. Eles atuavam principalmente no terminal de cargas.

A primeira informação dada pela Receita Federal sobre o esquema ocorreu em novembro. As investigações foram iniciadas em fevereiro. A polícia vai agora ouvir os presos para determinar o andamento das investigações.