Número de exportadores brasileiros vem reduzindo

Cai número de empresas exportadoras

Por Thiago Resende | De Brasília | Valor Econômico

O número de empresas brasileiras que exportaram no primeiro semestre deste ano é o mais baixo desde 2005. Nesses oito anos, o auge na quantidade de companhias exportadoras na primeira metade do ano foi em 2007 – antes de estourar a crise econômica mundial. Desde então, esse número registra consecutivas quedas tanto na comparação por semestre como na anual. A maior redução ocorreu em 2009, período de forte efeito da crise no Brasil, quando houve retração de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB).

E esse indicador do comércio exterior brasileiro não dá sinais de recuperação. No primeiro semestre deste ano, 352 empresas que venderam mercadorias no exterior em 2011, deixaram de exportar – uma queda de 2,25%. Por outro lado, o total de importadoras aumentou 20% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2011, percentual que representa 434 novos compradores de mercadorias no exterior. O levantamento foi feito com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

Desde 2007, enquanto 1,7 mil empresas desistiram de exportar (na comparação do primeiro semestre de cada ano), um número quase sete vezes maior (11,2 mil empresas) passou a importar mercadorias.

Por depender de uma maior demanda global – o que não é esperado -, a previsão de analistas é que menos companhias brasileiras embarquem mercadorias para o exterior neste ano e também em 2013. Atento a esse movimento, o governo deve lançar em agosto o Plano Nacional de Cultura Exportadora, que já foi anunciado. A ideia é promover ações coordenadas com alguns Estados e com 14 instituições, como Banco do Brasil, bancos de desenvolvimento e Sebrae para dar suporte no mercado externo, principalmente, para pequenas e médias empresas.

“O foco será no setor de manufaturados, mas também inclui companhias da agroindústria”, disse, ao Valor, o diretor do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio Exterior (Depla) do Mdic, Roberto Dantas.

De 2007 para cá as mudanças na lista de empresas nacionais exportadoras ocorreram apenas entre as menores companhias. Mesmo com a instabilidade econômica mundial, o número de empresas que venderam mais de US$ 1 milhão para o exterior, no primeiro semestre, permaneceu exatamente o mesmo – 3.253 – no período. As exportadoras menores, por outro lado, caíram de 13,6 mil para 11,9 mil entre o primeiro semestre de 2007 e o de 2012.

“A pauta de exportação do Brasil está muito concentrada em commodities e pouco em manufaturados. E quem exporta commodities são grandes grupos empresariais”, disse Soraya Rosar, gerente-executiva de negociações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para ela, o governo deveria reduzir o custo da produção nacional, pois mesmo com o câmbio mais favorável à exportação, as empresas estão com dificuldade de conquistar o mercado externo.

Apesar da redução na quantidade de empresas que vendem, no exterior em seis anos, as exportações cresceram 60% na mesma comparação. No primeiro semestre de 2007, o país exportou US$ 73,2 bilhões. Na primeira metade desse ano, esse valor foi de US$ 117,2 bilhões. “As exportações que aumentam são as de commodities. As [exportações] industriais, que são a parte central das empresas que vendem até US$ 1 milhão ao exterior, devem continuar caindo nos próximos anos”, avalia o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Como a redução no número de exportadoras, para ele, deve continuar, “a crise externa agora é apenas mais um elemento na desaceleração das exportações brasileiras”.

Para Vale é importante que o país agregue valor a produtos da agricultura e mineração. Essa seria uma “saída para mudar esse cenário, mas aí esbarramos [nos problemas] de logística e de custo de produção”, afirma.

Para o economista da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Rodrigo Branco, o empresário deveria buscar a diferenciação do produto para atender mercados específicos, já que ele não vê, no curto prazo, medidas do governo para melhorar a competitividade das pequenas e médias companhias. “O foco agora do governo é realmente auxiliar os grandes grupos industriais a retomar a produção”, destaca o economista.

Crise mundial derruba exportações brasileiras

Crise reduz em 17% as exportações brasileiras

Segundo a OMC, vendas externas do País foram as que mais caíram no mundo no primeiro trimestre de 2012; retração global foi de apenas 2%

13 de junho de 2012 | 23h 22
Jamil Chade, correspondente do O Estado de S. Paulo

GENEBRA – As exportações brasileiras foram as que mais desaceleraram entre as maiores economias do mundo em 2012. Dados publicados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) apontam que as vendas nacionais caíram 17% em valores entre o último trimestre de 2011 e o primeiro de 2012. Já a retração mundial foi de apenas 2%. A crise na Europa e a desaceleração da China foram os principais motivos.

A OMC já havia alertado que 2012 registraria um freio brusco nas exportações mundiais. Ao final do ano, a expansão não deve ser de mais de 3,7%, bem abaixo da média dos últimos 20 anos. No primeiro trimestre de 2012, a expansão do comércio em valores foi de 5%, em comparação ao mesmo período de 2011.

Em relação ao primeiro trimestre de 2011, as exportações nacionais ainda mostraram expansão de 8%. Mas, considerando a tendência dos últimos meses, a queda chega a ser superior à da China, com 15%, e Rússia, com 8%. As exportações americanas também se contraíram entre trimestres, mas de 1%, taxa similar à da Europa. Os indianos registraram expansão de 14%.

O freio nas exportações brasileiras já havia sido identificado pelo governo. Na Europa, mercados como a Espanha e Itália desabaram, afetando as vendas nacionais. Outro fator que pesou foi a relação com o mercado chinês.

A desaceleração na China já é sentida entre exportadores, principalmente no que se refere ao preço das commodities. Dependente de 80% de seu comércio com a China em apenas três produtos, a variação de preço de minérios e da soja tem um impacto instantâneo na renda.

Se as vendas brasileiras caíram, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,2% no primeiro trimestre também impactou as importações. Entre o fim de 2011 e março de 2012, as compras do Brasil de produtos estrangeiros havia sofrido uma contração de 11%. Só a queda das importações da Rússia, de 19%, foi superior à do Brasil. Na média mundial, as importações caíram 2% no trimestre.

Tensão Espanha-Argentina. A queda no comércio mundial não tem deixado espaço para negociações. Ontem, mais uma disputa foi lançada – desta vez, pela Argentina, contra práticas supostamente desleais da Espanha no comércio de biodiesel. O caso promete esquentar ainda mais a relação já crítica entre Madri e Buenos Aires.

Os espanhóis convenceram a Europa a abrir um caso na OMC contra o protecionismo argentino, justamente depois que a Casa Rosada tomou a decisão de nacionalizar a Repsol.

Ontem, a Argentina contra-atacou e levou a Genebra queixa contra restrições impostas por Madri à entrada de biodiesel. Segundo Buenos Aires, a nova legislação espanhola traria prejuízos de US$ 1 bilhão aos argentinos.