Os absurdos da política protecionista brasileira

Sobretaxa de importação do governo Dilma protege setores monopolistas

O ativismo do governo Dilma na política comercial pode se tornar um tiro no pé. Levantamento feito pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo aponta que 73% das sobretaxas de importação em vigor atualmente incidem sobre produtos que possuem, no máximo, três fabricantes no país. Em mais da metade dos casos (57%), a defesa comercial brasileira protege empresas monopolistas.

A situação se torna mais grave por causa da natureza dos produtos protegidos. A maioria é de partes, peças e insumos para a produção industrial. Para especialistas, as medidas de defesa comercial permitem reajustes de preços e elevam os custos das cadeias produtivas, prejudicando a competitividade da indústria, em vez de incrementá-la.

Um estudo publicado pelo Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes) mostrou que 88% das medidas antidumping aplicadas pelo país desde 2008, quando estourou a crise global, até outubro de 2012, incidiram sobre bens intermediários, como químicos, siderúrgicos, plásticos e tecidos.

“Para proteger algumas poucas empresas, o governo prejudica várias outras. Se a companhia protegida opera em um setor concentrado, sua capacidade de elevar preço é ainda maior”, diz Sandra Ríos, diretora do Cindes.

Segundo nota enviada pelo Ministério do Desenvolvimento, “82,3% das importações brasileiras são insumos de produção, logo é normal e razoável que uma maior quantidade de medidas de defesa comercial se aplique a essa categoria”. O ministério diz ainda que “os setores petroquímico e siderúrgico respondem por 50% das medidas antidumping aplicadas no mundo”.

FONTES: GAZETA DO POVO E AGÊNCIA ESTADO

Comentários:

Importante destacar, da notícia acima, a evidência que, com toda a certeza, já era constatada por todos nós.

Vamos a um exemplo, no mínimo, grotesco.

O que falar da alegação que todos os veículos importados prejudicam a indústria nacional? Esse argumento, vale dizer, culminou com a criação do malfadado INOVAR-AUTO.

Os únicos veículos que prejudicam a indústria nacional, a meu ver, são os chineses. Isso porque a indústria nacional não fabrica veículos com potência superior a 2.000 cilindradas.

Daí fazer com que o absurdo aumento de IPI visto no final de 2011 prejudique veículos com motorização superior a 2.000 cilindradas com a estapafúrdia e falaciosa alegação de que prejudicam a indústria nacional beira o ridículo.

Será que uma Lamborghini prejudica a indústria nacional? E o que falar de uma Land Rover? Pior… a Ferrari prejudica a indústria nacional?

Ora, as medidas protecionistas perpetradas pelo Governo Dilma são absurdas.

Protegem indústrias que não precisam de proteção.

As indústrias que precisam de proteção são aquelas que, de fato, sofrem consequências decorrentes de importações fraudulentas.

Importações realizadas na forma da lei não prejudicam, e se prejudicarem possuem meios legais para serem coibidas, tais como aplicação de medidas antidumping, salvaguardas, ou barreiras técnicas.

Porém, elevar tributo para, em seguida, criar um “regime automotivo” com fins de inventar um benefício tributário é ridículo.

Assim como é bestial o aumento do Imposto de Importação logo após a redução de carga tributária em determinado segmento.

Cara Dilma, o importador não merece levar porrada a todo momento, salvo aquele que pratica importações ilegais, fazendo uso de métodos fraudulentos. Todavia, as alfândegas já realizam o seu papel com notável competência, sem que haja necessidade de intervenção presidencial.

Luciano Bushatsky Andrade de Alencar

Agora é a indústria têxtil que pede proteção!

Indústria têxtil pede ao governo cotas para importação de roupas

Empresários veem ‘surto’ de importações; medida prejudicaria varejistas como C&A e Lojas Renner

23 de agosto de 2012
Raquel Landim, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – O setor privado solicitou ao governo que adote uma barreira contra a importação de roupas. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) protocolou ontem um pedido de investigação de salvaguarda para vestuário, alegando que está ocorrendo um “surto” de importações de roupas no País, que causa prejuízos à indústria nacional.

Se o pleito for atendido, as roupas que chegam ao Brasil, vindas de qualquer origem, estarão sujeitas a cotas ou a uma sobretaxa. A medida prejudica os interesses de grandes varejistas, como C&A, Lojas Renner, Riachuelo e Marisa. Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) preferiu não se pronunciar.

O assunto é polêmico e divide opiniões no governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, incentivou o setor a entrar com o pedido e vê a demanda com bons olhos. No fim do ano passado, chegou a falar em trocar as tarifas de importação de vestuário de “ad valorem” (porcentagem) para “ad rem” (um valor fixo), mas a ideia não prosperou. No Ministério do Desenvolvimento, o assunto provoca desconforto e o órgão promete uma avaliação técnica. O Itamaraty vê com receio o impacto para a imagem do Brasil no exterior.

O setor têxtil está pedindo ao governo que adote, preferencialmente, cotas para a importação de 60 produtos de vestuário, que representam 82% das importações. Estão na lista camisas, camisetas, calças, vestidos, saias, roupa infantil, moda praia, roupa íntima, entre outros. Só não foram incluídos itens que o País praticamente não produz.

“A crise gerou um excedente de vestuário na Ásia, que aumentou as vendas para o Brasil. Uma camisa que entra de forma desleal mata toda a cadeia, desde a plantação de algodão até a confecção”, disse Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit.

Prejuízo

Em um processo de mais de 2 mil páginas, dividido em oito volumes, a entidade argumenta que a crise provocou um surto de importação no Brasil, que gerou um “prejuízo grave” para a indústria. Segundo dados do IBGE, citados nos documentos, a produção nacional de vestuário caiu 13% no primeiro semestre deste ano, enquanto as importações subiram 30%.

A salvaguarda é um instrumento de defesa menos utilizado que o antidumping, que é aplicado para um produto e contra um país. Na salvaguarda, é protegido todo o setor, que reconhece que não tem condições de competir e pede um tempo de ajuste, que pode chegar a 10 anos.

O Brasil aplicou salvaguarda contra a importação de brinquedos por mais de uma década, mas não se transformou em grande produtor. “A salvaguarda tem um caráter mais protecionista e o país que aplica muito não é bem visto. Não é o caso do Brasil”, diz Juliana Oliveira Domingues, professora da USP e advogada no escritório L.O. Batista.

Movimento paredista causa prejuízos à indústria nacional

Paralisações afetam importações de insumos

Por Fernanda Pires, Rodrigo Pedroso, Mônica Scaramuzzo e Diogo Martins | De Santos, São Paulo e do Rio | Valor Econômico

A indústria convive há 23 dias com a greve dos funcionários da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e desde 18 de junho com a operação-padrão da Receita Federal, mas a situação para o setor piorou com a adesão dos fiscais agropecuários à paralisação nacional dos servidores federais.

Em Santos, o volume de contêineres parados nos quatro terminais marítimos especializados nessa operação aumentou 35% sobre o dia anterior, chegando a 3.874 Teus (contêiner de 20 pés), segundo o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp). Em Manaus, o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) vai entrar na Justiça pedindo a garantia do desembarque de mercadorias no porto e no aeroporto de Manaus em um prazo máximo de oito dias.

Apesar de iniciada na segunda-feira, a paralisação dos fiscais agropecuários respondia ontem por 61% dos contêineres bloqueados no cais santista. O restante esperava a liberação por servidores da Anvisa (8%) e da Receita Federal (31%). Entre as mercadorias, estavam produtos siderúrgicos, automotivos, agentes orgânicos, medicamentos, arroz, frutas, eletrônicos e pastas químicas de madeira.

A greve dos fiscais ligados ao Ministério da Agricultura afeta um universo maior de cargas, porque, além de serem responsáveis pela inspeção de mercadorias de origem vegetal e animal, a categoria vistoria toda a madeira que entra no país, para evitar a introdução de pragas, o que inclui o interior de quase todo contêiner. Eles são revestidos com embalagens de madeira, usadas para facilitar o manuseio da carga.

“Estamos chegando num momento que não vamos conseguir operar. Se continuar assim, semana que vem haverá terminal rejeitando carga”, afirma Querginaldo Camargo, presidente do Sopesp.

De acordo com o diretor-administrativo da Panasonic em Manaus, Iuquio Ashibe, o estoque da fábrica no polo vai durar até a próxima quarta-feira. Se ela não for reabastecida até lá, a produção será paralisada. “Esta semana praticamente não houve liberação de importações. Estamos esperando a carga de um navio que chegou ao porto há duas semanas”, informou. A carga possui componentes para televisores, câmeras digitais, micro-ondas e outros eletrônicos.

A TP Vision, que produz televisores para a Philips e conta com cerca de 700 funcionários, adiou a contratação de uma equipe completa para atuar em uma linha de produção do produto, em função dos efeitos da greve. “É difícil prever o que vai acontecer daqui para frente, mas espero que os servidores e o governo cheguem a uma solução. Se continuar assim, vamos ter mais problemas a partir da próxima semana”, disse o gerente da fábrica, Almir Kimura.

Do outro lado, o Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa), diz que o atendimento foi reduzido para chamar a atenção do governo, e que metade das cargas que chegam à cidade está sendo descarregada. Atualmente, quatro fiscais operam no porto da cidade e dois no aeroporto. Com o efetivo considerado insuficiente, já havia filas para o desembaraço das importações e exportações antes da paralisação.

De acordo com o presidente da Cieam, Wilson Périco, cerca de 8 mil empregados ligados à entidade tiveram licenças remuneradas desde o início das greves de servidores federais. A Zona Franca de Manaus gera faturamento diário de US$ 160 milhões, que está sendo afetado em parte pelas paralisações. Périco diz que atualmente cinco empresas estão paradas ou reduziram parte da produção pela falta de insumos.

Outras empresas, como Nokia, Sony e Honda informaram que não estão sendo afetadas pela paralisação e possuem estoque alto para garantir a produção. As líderes do setor de linha branca também não foram afetadas, mas a Whirlpool e a Electrolux avaliam que, se a greve se estender, pode prejudicar as vendas de agosto, mês em que termina a redução do IPI sobre eletrodomésticos.

Para o setor farmacêutico, ao contrário de outros, a greve da Anvisa é a que mais preocupa. Ela já está comprometendo a oferta de importantes insumos para produção de remédios, também de medicamentos, sobretudo para tratamento de doenças complexas, que são adquiridos em boa parte pelo próprio governo. Procurados pelo Valor, a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), que representa as indústrias multinacionais, e o Sindicato da Indústria e Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo (Sindusfarma), afirmaram que “a situação é preocupante”, sem citar produtos mais atingidos.

Valor apurou que alguns medicamentos para tratamentos complexos, como oncologia, por exemplo, contrastes para a realização de exames de imagens e até morfina podem faltar, se a greve se estender nas próximas semanas. “O abastecimento ficará comprometido para as indústrias que não têm estoque suficiente”, afirmou Antonio Britto, diretor-executivo da Interfarma.

Para Nelson Mussolini, diretor-executivo do Sindusfarma, “a situação é preocupante, mas não alarmante”. O sindicato conseguiu um mandado de segurança para agilizar a recepção de produtos do setor em Guarulhos (SP) e Anápolis (GO), onde há um importante polo farmacêutico. No Rio de Janeiro, o mandado está valendo, mas ainda depende de exigências da Anvisa. “Em Santos (SP), nosso mandado foi indeferido, mas recorremos”, disse. O sindicato aguarda decisões do Paraná e Campinas (SP). Procurada, a Anvisa informou que não há notícias de desabastecimento. A orientação é manter os trabalhos essenciais.

No Rio, empresas ligadas à Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) continuam a enfrentar problemas na liberação de mercadorias no porto. A liminar obtida pela entidade, que obriga a Anvisa a liberar toda a carga retida pela autarquia, não está sendo cumprida, segunda a advogada-chefe da divisão tributária da federação, Cheryl Berno. O presidente da Companhia Docas do Rio de Janeiro, Jorge Luiz de Mello, afirmou que o processo de entrada e saída de navios foi restabelecido nos últimos dias. (Colaboraram Bruna Cortez, Cibelle Bouças e Daniele Madureira, de São Paulo)

 

Mais uma medida protecionista do Governo Federal, agora contra vinhos importados

Vinícolas querem barrar importação

A pedido das vinícolas brasileiras, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), decidirá, em março, a possível abertura de um processo de salvaguarda contra os vinhos importados. Os produtores nacionais esperavam para esta semana a abertura do processo, mas fontes do ministério ouvidas pelo Valor informaram que o prazo não é suficiente para conclusão do estudo técnico que precede a investigação.

A medida foi solicitada pelo setor vitivinícola em agosto de 2011 e no dia 16 deste mês, durante visita à Festa da Uva de Caxias do Sul, a presidente Dilma Rousseff prometeu tomar providências previstas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) contra práticas comerciais “assimétricas e danosas” à indústria nacional.

Os técnicos da secretaria de Comércio Exterior, encarregados de analisar o pedido da indústria nacional, não conseguiram ainda concluir o estudo técnico sobre a situação do setor e a ameaça dos importados, para caracterizar indícios de dano grave ou ameaça de dano aos produtores no país. Os técnicos querem ter em mãos sólidas evidências para sustentar as investigações, que podem ser acompanhadas de medida provisória com barreiras às importações de vinho. Calcula-se que essas investigações, ao final das quais seriam aplicadas salvaguardas definitivas, poderão durar pelo menos seis meses. O governo teme, ainda, que a abertura de processo para salvaguardas provoque uma indesejável antecipação de importações, e estuda maneiras de evitar essa reação dos comerciantes.

 

Segundo o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Henrique Benedetti, que também nesta semana participa da reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Viticultura, Vinhos e Derivados, em Brasília, a situação atual é “insustentável”. Em 2011, os importados dominaram 78,8% do mercado legal de vinhos finos no país, que totalizou 92,2 milhões de litros, participação semelhante aos 79,4% de 2010.

Em 2005, a fatia era de 63,1% e desde lá até 2011 as vendas dos importados saltaram de 37,5 milhões para 72,7 milhões de litros, enquanto o produto nacional recuou de 21,9 milhões para 19,5 milhões de litros, apesar de uma lenta recuperação a partir de 2009. Para a indústria, os estrangeiros competem em condições desleais com os brasileiros porque gozam de vantagens tributárias na origem e o mercado doméstico também é inundado por produtos de baixa qualidade, subfaturados e contrabandeados.

Após a publicação da abertura do processo de salvaguarda no Diário Oficial da União os países atingidos terão prazo para apresentar defesa. Integrantes do Mercosul, Argentina e Uruguai não seriam afetados pelas eventuais medidas. Os argentinos supriram 22,9% das importações brasileiras de vinhos finos em 2011 e os uruguaios, 1,7%. O mais prejudicado, caso alguma salvaguarda seja efetivamente aplicada, será o Chile. Beneficiado por acordo que reduz a zero o imposto de importação de 27%, o país é o maior fornecedor de vinhos para o Brasil, com 36,6% de participação sobre as importações totais no ano passado e 37,2% em 2010, informa Benedetti.

Conforme o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Alceu Dalle Molle, a indústria defende a aplicação de salvaguardas por pelo menos três anos, renováveis por igual período. O prazo é necessário para a reconversão dos vinhedos e a produção de variedades mais nobres de uvas e para a modernização do parque industrial das vinícolas, com apoio dos governos federal e estadual. Com isso, o produto nacional terá maior competitividade, explica.

Benedetti acrescenta que as salvaguardas poderiam incluir preços mínimos aos importados, cotas e medidas tributárias. Segundo ele, Estados como Santa Catarina, Espírito Santo e Pernambuco oferecem redução de ICMS para produtos internalizados através de seus portos, garantindo vantagens extras aos vinhos estrangeiros.

O selo fiscal nas garrafas de vinhos e espumantes, obrigatório no varejo desde primeiro de janeiro deste ano (exceto para produtos adquiridos pelo comércio até 31 de dezembro de 2010), é “uma das ferramentas” no combate à avalanche de importados no mercado, doméstico explica Benedetti. O mecanismo inibe principalmente a comercialização de produtos contrabandeados (que não aparecem nas estatísticas), mas cerca de 35% das importações legais está isenta da exigência devido a liminar obtida pelas filiadas à Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (ABBA), calcula o presidente do conselho deliberativo da entidade, Adilson Carvalhal Júnior.

Com as eventuais medidas de proteção comercial, Dalle Molle prevê que a indústria brasileira pode equilibrar a disputa com os importados e alcançar 50% do mercado nos próximos anos. Segundo Benedetti, para isso seria necessário dobrar as vendas atuais do produto nacional. Ele revela que o país produz entre 45 milhões e 50 milhões de litros de vinhos finos por ano e que os estoques já alcançam cerca de três anos de produção, o que aumenta os custos financeiros das vinícolas locais.

Benedetti diz ainda que a situação do setor se agravou no fim do ano passado e no início deste com a desaceleração das vendas. Enquanto no acumulado de 2011 a demanda por vinhos nacionais cresceu 6,4% sobre 2010, no último bimestre houve queda de 1,5% ante igual período do ano anterior, para 3,4 milhões de litros. Já os importados, que tiveram alta de 2,4% de janeiro a dezembro, aceleraram nos dois últimos meses e cresceram 5,9%, para 16 milhões de litros.

Os dados de janeiro de 2012 ainda não estão disponíveis, mas segundo Daniel Salton, presidente da Salton, uma das maiores vinícolas do país, as vendas de vinhos finos em janeiro foram semelhantes às do mesmo mês do ano passado, depois de uma alta de quase 7% no acumulado de 2011 em comparação com 2010. Mesmo assim, Dalle Molle espera que a demanda pelo produto nacional cresça neste ano a uma taxa pelo menos igual à do exercício passado.

Fabricantes brasileiros de papeis compram briga contra importações

Grupo abre guerra contra papel importado

DE SÃO PAULO

Quatro fabricantes de papel-cartão, produto que atende ao nicho do bilionário mercado de embalagens, vão abrir nas próximas semanas um novo front na guerra contra as importações. O alvo: defender o mercado de, pelo menos, R$ 1,5 bilhão, informa reportagem de Agnaldo Brito para a Folha.

 

A chamada “Aliança Papel-Cartão Sustentável” será uma iniciativa à parte das ações que já são comandadas pela Bracelpa, a associação brasileira do setor de papel e celulose.

Elas alegam fortes prejuízos com a expansão das importações de papel-cartão nos últimos anos. São dois os problemas: 1) A importação de papel fabricado por indústrias que não respeitam normas de sustentabilidade, criando uma espécie de “dumping”; e 2) desvio do chamado “papel imune”, produto beneficiado com isenção fiscal no uso editorial. Parte desse produto, alega o setor, é desviado para uso comercial.

O setor diz que esses dois problemas permitem o ingresso de papel no Brasil com preços 38% inferiores aos nacionais. “Não há uma única indústria desse segmento que tenha uma margem dessa magnitude”, afirma Antonio Claudio Salce, presidente da Papirus.

Os alvos são os asiáticos. “Essas empresas estão sendo expulsas da Europa e dos Estados Unidos. Quando exportamos, somos obrigados a apresentar nossas certificações reconhecidas no mundo. O que queremos é que para entrar no Brasil isso também seja observado”, diz Edgard Avezum Júnior, diretor comercial da Klabin.

Chineses usam a Argentina para fugir de medidas anti-dumping

China dribla barreira via Argentina

Empresas suspeitam que chineses estejam usando a Argentina para trazer produtos e burlar medidas de defesa comercial brasileiras

19 de julho de 2011
Iuri Dantas, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – A China vem utilizando a Argentina para burlar as medidas adotadas pelo governo brasileiro para proteger a indústria da invasão de produtos do gigante asiático. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior comprovam que a exportação de algumas mercadorias pelo sócio do Mercosul disparou depois que o governo sobretaxou os mesmos artigos chineses.

Levantamento feito pelo Estado com base na balança comercial do primeiro semestre indica que um em cada cinco produtos vendidos pela Argentina ao Brasil é “novo”, ou seja, são mercadorias que não foram importadas no mesmo período do ano passado. O volume é significativo, mas como os produtos são baratos eles respondem por 1,15% do valor total comprado pelo Brasil do vizinho.

Além dessa leva de novos produtos, o que tem chamado a atenção dos empresários é a forte entrada de alguns artigos, que geram a suspeita de triangulação para burlar as medidas de defesa comercial. A importação de alto-falantes, por exemplo, cresceu 5.383% somente no primeiro semestre, depois que foi imposta uma sobretaxa para impedir a entrada dos equipamentos chineses.

“A Argentina tem um ou dois fabricantes. Está vindo muito produto de lá, mas é provavelmente triangulação da China”, disse Marco Antônio Peñas, executivo da fabricante de alto-falantes Arlen, empresa que atua no setor há 43 anos.

Escovas. As indústrias do setor de escovas de cabelo também desconfiam que os concorrentes da China têm usado a Argentina para colocar seus produtos no mercado brasileiro. Segundo Manolo Canosa, presidente da Comissão de Defesa da Indústria Brasileira (CDIB) e fundador da Escovas Fidalga, uma das empresas do setor chegou a fazer um teste com os chineses para saber como poderia burlar a trava brasileira à entrada de escovas produzidas em Pequim. “O fornecedor ofereceu três opções para escapar do imposto: trazer via Taiwan, Vietnã ou Argentina”, disse o executivo.

Segundo o empresário, a concorrência com os produtos chineses tem provocado fortes perdas para a indústria nacional, com fechamento de fábricas e demissões. “O setor está minguando. Fazíamos três turnos e hoje temos apenas dois. Sobraram duas empresas, o resto virou importador.”

Não é de hoje que a segunda maior economia do mundo utiliza terceiros países para evitar punições comerciais, mas até este ano os casos eram mais restritos a países asiáticos, onde os chineses mantinham centros de distribuição para aplicar etiquetas falsas antes de reexportar.

Quando a Argentina entra na lista de países usados pelos chineses, cresce a possibilidade de dano ao Brasil porque a maioria de seus produtos não paga imposto na fronteira por ser integrante do Mercosul.

Governo dá sinais de possível uso de medidas de salvaguarda para proteger indústria nacional

Não descartamos uso de salvaguarda comercial provisória, diz Pimentel

Ministro do MDIC disse que a possibilidade pode ocorrer caso sejam constatados danos comerciais graves a algum setor da economia brasileira, em decorrência de importações desleais

20 de abril de 2011
Eduardo Rodrigues, da Agência Estado

BRASÍLIA – O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, admitiu há pouco que o Brasil poderá adotar salvaguardas comerciais provisórias caso sejam constatados danos comerciais graves a algum setor da economia brasileira, em decorrência de importações desleais. Segundo ele, no entanto, a medida nunca foi utilizada no mundo, por ser bastante agressiva e demandar um processo muito rigoroso de comprovação.

Segundo Pimentel, as salvaguardas consistem na sobretaxação genérica de todos os produtos fabricados por um setor. “Tomando um exemplo hipotético, se constatarmos que o setor siderúrgico esta prestes a fechar as portas, poderíamos utilizar a salvaguarda, mas não é o caso e não há nenhum processo em aberto”, afirmou Pimentel.

Em participação no programa “Bom Dia Ministro” na sede da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o ministro confirmou que até existem pedidos por parte da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mas somente se forem bem fundamentados darão início a investigações. “Nenhum país do mundo até hoje conseguiu usar o instrumento, mas continuamos atento à questão e poderemos utilizar se for preciso”, disse.

Segundo Pimentel, o Brasil continua aplicando medidas antidumping para tentar coibir casos pontuais de práticas ilegais de comércio. “É uma proteção da economia brasileira contra concorrência desleal. Temos que estar o tempo todo vigilantes e utilizar medidas que a Organização Mundial do Comércio nos autoriza”, completou.

Dólar

Pimentel admitiu que o real deverá permanecer valorizado nos próximos anos, mas afirmou que o patamar atual está acima do ideal, pois prejudica a produção nacional e retira competitividade das mercadorias brasileiras.

“Países fortes têm moedas fortes, não vamos esperar que o real caia de uma hora pra outra. Agora, o real não deve estar em um patamar tão alto que prejudique a produção nacional”, disse Pimentel.

Segundo ele, o governo continuará combatente a valorização excessiva da moeda. “Não posso dizer quais, porque não é a minha área, mas novas medidas serão adotadas pelo governo”, completou.

Pimentel culpou as ações do governo norte-americano no sentido de desvalorizar o dólar para dar maior competitividade à sua economia, que ainda não conseguiu se desvencilhar por completo dos efeitos da crise financeira internacional. Além disso, destacou o ministro, o bom momento do Brasil tornou o País um dos principais alvos dos investimentos estrangeiros, aumentando a entrada de dólares no mercado brasileiro. “Esse segundo problema é um bom problema, nós sempre trabalhamos para que isso acontecesse”, concluiu.

Exim-Brasil

O ministro afirmou pouco que o Exim-Brasil deve sair finalmente do papel em maio ou junho deste ano. Segundo ele, o banco de fomento ao comércio exterior já está praticamente pronto, mas ainda depende de uma decisão interna do governo para ser colocado em prática. “O Excim será uma importante linha para financiar as exportações brasileiras”, disse Pimentel.

O banco foi anunciado pela primeira vez ainda em maio do ano passado, dentro de um chamado “pacote de apoio aos exportadores”. No entanto, quase um ano após o anúncio do governo, a maior parte das medidas ainda não foram implementadas. Pimentel deu rápida entrevista, depois de participar do programa Bom Dia Ministro, na sede da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Importados são responsáveis pelo aumento no consumo

Importado domina aumento no consumo

DE SÃO PAULO | Folha de São Paulo

Quase 80% do crescimento no consumo de produtos industrializados ocorrido no Brasil no último trimestre de 2010 foi suprido por importações, segundo estudo do banco Credit Suisse, informa reportagem de Érica Fraga para a Folha.

A análise da instituição revela que a produção industrial doméstica tem perdido espaço para as importações em meio à crescente demanda de consumidores e empresas por bens, como máquinas, veículos e roupas.

“Enquanto a produção industrial tem desacelerado, a importação de bens industriais segue forte”, diz Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse no Brasil.

O cálculo da quantidade de bens industriais consumida no país feito pelo banco inclui tudo o que foi produzido localmente e importado. Do resultado dessa conta é descontada a parcela da produção que foi exportada e, portanto, consumida fora.

Segundo o Credit Suisse, o consumo de produtos industriais aumentou 6,9% no último trimestre do ano passado em relação ao mesmo período de 2009.

As importações responderam por 79,2% dessa expansão. A parcela é quase o dobro da contribuição de 40% feita pela produção local. Já as exportações subtraíram 19,2% desse aumento de consumo no período.

Produtos chineses ampliam participação no mercado

Chineses ampliaram fatia de mercado

Em 2004, equipamentos asiáticos tinham 2% das vendas; em 2010 chegaram a 40%

Marcelo Rehder – O Estado de S.Paulo

A importação cresce num ritmo nove vezes maior que o do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria nacional. Enquanto o PIB industrial aumentou 36% entre 2004 e 2010, a importação de produtos industrializados subiu 121,4%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Em seis anos, a exportação de industrializados recuou 4,8%.

“Quando se nota ao longo do tempo que a importação cresce e a exportação cai, significa perda de competitividade”, diz Mário Bernardini, diretor da Abimaq.

São muitos os exemplos de empresas que pagam alto pela conta desse processo. A Paletrans é praticamente o último fabricante que restou no mercado brasileiro de transpallet manual, um equipamento hidráulico para movimentação de mercadorias em supermercados.

Outras dez empresas que atuavam no segmento jogaram a toalha nos últimos seis anos, depois de serem nocauteadas pelo preço baixo dos produtos estrangeiros. Uma delas ainda tem produção local, mas traz boa parte dos equipamentos do exterior.

“Enquanto eu gasto R$ 230 só de matéria prima, o equipamento chinês sai da fábrica por U$ 110 a unidade”, queixa-se Lineu Matos Camargo Penteado, presidente da Paletrans. “O produto estrangeiro chega ao cliente final no Brasil por R$ 500 a R$ 600. Eu não consigo oferecer o meu para esse mesmo cliente por menos que R$ 700.”

A participação de equipamentos chineses se alastra no mercado nacional. Há seis anos, eles detinham apenas 2% das vendas. Hoje, já respondem por quase 40%. Em 2010 foram vendidas 60 mil unidades no País, entre importados e nacionais. “Só a minha empresa fabricou 35 mil, mas o crescimento dos chineses é assustador”, afirma Penteado.

Com fábrica em Cravinhos (SP), a Paletrans já foi líder de vendas em países latinos como Argentina e Venezuela. Em 2003, a empresa exportava 30% de toda a produção – hoje esse número não passa de 0,2%.

“O problema é o câmbio, porque nós sempre tivemos o custo Brasil e ele não melhorou, mas também não piorou. Já a valorização do real é brutal”, argumenta o empresário.

Diferença. Dados do Ministério do Desenvolvimento levantados pela Abimaq mostram que é grande a distância entre o preço de máquinas e equipamentos nacionais e dos importados. O quilo de produtos, como válvula tipo gaveta, sai aqui por US$ 53,30, enquanto na Alemanha é US$ 35,8 e, na China, US$ 4,95.

Em seis anos, a produção de máquinas e equipamentos cresceu 30%, menos que a metade do consumo, de 76,5%. A exportação caiu 21% e a importação avançou 167%.

A falta de competitividade do produto nacional é problema até para quem quer exportar a preço de custo. A Polimold, que fabrica porta-moldes para indústria de ferramentaria em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, sente isso na pele. Em menos de quatro anos, as vendas externas da empresa caíram pela metade.

“Há poucos dias, recebi uma proposta interessante de exportação para a Turquia”, conta Alexandre Fix, um dos sócios da Polimold e presidente da Câmara Setorial de Ferramentaria e Modelação da Abimaq. “Resolvemos mandar nosso preço de custo porque sabíamos que, se não fosse assim, teríamos dificuldades. Mas não levamos: o turco disse que teríamos de reduzir o preço uns 20% a 30%.”

O contrato previa a exportação de 70 toneladas de placas de moldes por mês por quase um ano. Para se ter uma ideia, a Polimold, considerada uma das maiores empresas do setor da América Latina, fabrica mil porta moldes por mês. “Os turcos estavam comprando algo entre 15% a 20% disso.”

“Essa situação não é de hoje, embora muita gente só tenha acordado agora para o fato”, diz o presidente de uma empresa que fechou a fábrica de componentes eletrônicos na Zona Franca de Manaus. Só nos últimos três anos, mais de uma dezena de fabricantes seguiram o mesmo caminho. O empresário diz que o fechamento de uma unidade dificilmente tem volta, pois significa que “os acionistas não acreditam mais no negócio”.

A crescente importação de produtos de média e alta tecnologia

Importação de produtos de alta e média tecnologia quase triplica em seis anos

Compras externas de veículos, máquinas, equipamentos e eletroeletrônicos cresceram 177% entre 2004 e 2010, aponta estudo da Abimaq

Marcelo Rehder, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – A indústria brasileira perde espaço em ritmo acelerado para produtos importados nos setores mais dinâmicos da economia nacional. Nos últimos seis anos, quase triplicou a importação de produtos do chamado grupo de média- alta tecnologia, que inclui de veículos automotores e outros equipamentos de transporte a eletroeletrônicos, máquinas e equipamentos.

Um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entregue há cerca de duas semanas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mostra que o consumo desses itens deu um salto de 76% entre 2004 e 2010, mas a produção local cresceu só 40%. E a diferença foi suprida por importações, cujo crescimento atingiu 177% nos seis anos.

A situação é agravada pelo desempenho no grupo de produtos de alta tecnologia, que em boa parte já é dominado pelos importados. No entanto, o diagnóstico acaba sendo dificultado pelos produtos de menor intensidade tecnológica, cujo quadro ainda favorável puxa para baixo a média da participação de importados no consumo global de industrializados.

“Todo mundo fala que a indústria está indo bem, mas precisa ver de qual indústria está se falando”, diz o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto.

O real valorizado encarece as exportações ao mesmo tempo em que torna as importações mais baratas. Com os custos da produção pressionados para cima pela carga tributária, logística, energia e mão de obra, entre outros fatores que compõem o chamado custo Brasil, as empresas alegam não ter como competir com os importados. Para manter parte do mercado, os fabricantes locais importam componentes e até produtos totalmente fabricados no exterior.

Para especialistas, é prematuro dizer que o País passa por um processo de desindustrialização generalizado. Nos setores considerados de baixa tecnologia, que incluem os segmentos mais intensivos em mão de obra, como alimentos e bebidas, calçados, têxtil e vestuário, na média, a participação de importados no consumo passou de 3% em 2004, para 5,8% no ano passado. É pouco se comparado com a evolução no grupo de média -alta tecnologia, em que os estrangeiros dobraram a sua fatia, de 14,9% para 30,6% do total.

A situação não é tão tranquila para o grupo de média -baixa intensidade tecnológica, entre os quais estão produtos de metal, metalurgia básica, borracha e plástico. Em seis anos, a parcela dos importados no consumo cresceu de 7,1% para 16,9%.

Problemas. Mas nada se compara aos produtos de alta tecnologia, como químicos, material eletrônico e equipamentos médico-hospitalar e de comunicação, em que a produção não acompanha nem de longe o crescimento do consumo.

A fatia dos estrangeiros chegou a 36,9%, ante 24,6% em 2004. A importação de equipamento médico-hospitalar cresceu 268% e hoje responde por 65,5% do consumo brasileiro.

“Os setores de média-alta e alta tecnologia estão sendo desindustrializados”, afirma o diretor do Departamento de Competitividade, Economia e Estatística da Abimaq, Mário Bernardini, responsável pelo estudo.

Para ele, a situação é dramática porque a perda de competitividade faz com que as empresas deixem de ganhar dinheiro, pois têm de baixar seus preços para competir com os importados. O que à primeira vista parece favorecer o consumidor. “A questão é que, baixando o lucro, a empresa não tem dinheiro para investir e vai ter de importar ou fechar as portas”, frisa Bernardini.

Um exemplo é o da indústria de material eletrônico, em que a importação dobrou em seis anos e já responde por 56% do consumo brasileiro. A taxa média de investimento em seis anos foi de apenas 3,8% da receita líquida, quando deveria ser acima de 5%.

“Com uma rentabilidade baixíssima e sentindo que o preço de venda tem chance de cair ainda mais, quem vai querer se arriscar a investir? É preciso ter retorno para haver investimento”, diz o presidente da Câmara Setorial de Ferramentaria e Modelação da Abimaq, Alexandre Mix.